Personagem modelada, rica de vida interior, sofre uma evolução psicológica ao longo da obra. É o personagem central no qual o autor vazou a sua própria personalidade, procurando justificá-la e tomando a sua defesa: "Leitor amigo e benévolo, caro leitor meu indulgente, não acuses, não julgues à pressa o meu pobre Carlos." (Cap.XXII) É o típico exemplo da galeria romântica dos homens fatais, que espalham à sua volta a destruição e o sofrimento. Egoísta até à comiseração que sente por si mesmo, retira dos outros aquilo que eles lhe podem dar, mas nunca retribui, porque é incapaz. "Quero contar-te a minha história: verás nela o que vale um homem. Sabe que os não há melhores que eu: e tão bons, poucos. Olha o que será o resto!" (Cap.XLIV) É um puro coração que a sociedade transformou num céptico, um sentimental arrastado por um coração demasiado grande e sensível que não sabia obedecer à razão ou à vontade. Com um carácter inconstante, não consegue encontrar-se a si próprio nem identificar-se com o seu verdadeiro eu, simbolizado por Joaninha. Tem uma tendência mórbida para a volubilidade. |
Verdadeiro personagem-tipo, de vida interior muito esbatida, cuja função é mostrar a destruição de carácteres como o de Carlos. É uma adolescente natural, impoluída, misto de criança e de mulher, ideal de espiritualidade. Uma rapariga sentimental, ingénua e pura, sem artifícios da convivência que, ao primeiro combate com as injustiças e crueldades sociais enlouquece e morre, vítima inocente da fatalidade. Personifica a graça, a fragilidade, o espírito de sacrifício e o encanto feminino na concepção do autor. Polariza todas as mulheres que Carlos amou, todas as suas paixões e anseios amorosos. |
Personagem determinante do conflito, de certa densidade psicológica e de alguma evolução ao longo da obra. Simboliza as ideias absolutistas que defendiam que o poder do Rei é legado por Deus para governar a nação seguindo os preceitos evangélicos. "católico sincero e frade no coração" (Cap. XV), "o frade mais austéro e pregador mais eloquente daquele tempo" (Cap. XVI), "homem extraordinário que juntava a uma erudição imensa o profundo conhecimento dos homens e do mundo", "homem de princípios austéros, de crenças rígidas e de uma lógica inflexível e teimosa". (Cap. XV) "um ser de mistério e de terror", "o cúmplice e o verdugo de uma grande crise", encarna a ideia cristã da penitência, vive para expiar, sendo objecto de uma cólera divina. É uma figura que tem como função na obra criar uma atmosfera de terror, fazendo prever ao leitor uma fatalidade eminente e um mistério terrível. Representa também o frade-tipo, atormentado pelo remorso, perseguido ainda pelo mundo na cela do seu convento, monge austéro e ameaçador que abomina as doutrina liberais e a heresia. Personagem aparentemente rigoroso e malévolo, como é característico do frade romântico. Antes de ser frade, Dinis de Ataíde era materialista, dominado por paixões que levarão ao nascimento do próprio Carlos, à morte de sua mãe e ao assassínio do pai de Joaninha e do marido da mãe de Carlos. Estes pecados levá-lo-ão a professar, abandonando a vida material para se tornar espiritualista. |
Carlos segue um percurso inverso: quando jovem soldado do exército liberal era idealista, desprendido das coisas materiais; com a instalação do Novo Regime (liberalismo), a sociedade torna-se profundamente materialista e Carlos transforma-se em barão, o símbolo mais perfeito do materialismo burguês. |
"Uma bela mulher de estatura não acima da ordinária", "a cabeça com uns laços de preto e cor de granada ( ) um rosto oval, clássico, perfeito, sem grande mobilidade de expressão mas belo" (Cap. XXXII) Mulher madura no pensar, enérgica, de personalidade forte e firme, embora não perdendo a sua sensibilidade de mulher. Simboliza o espírito de abnegação, sacrifício e de renúncia. Tanto ela como Joaninha são personagens individuais, que não representam qualquer grupo social.
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Gravuras de Paulo Ribeiro |
Paciente, terna, carinhosa e amante dos netos. O seu comportamento quase não sofre alterações do princípio ao fim da novela. Está mais ligada ao passado do que ao presente, só ela conhece o mistério da família e os crimes de Frei Dinis. Desempenha um papel decisivo na cena do reconhecimento. É ela que impede Carlos de assassinar Frei Dinis, revelando-lhe que ele é seu pai. "Filho, meu filho! - arrancou a velha com estertor do peito: - É teu pai, meu filho. Este homem é teu pai, Carlos". (Cap.XXXV) A morte dos filhos, da nora e do genro levá-la-ão à cegueira de tanto chorar, com a morte da neta (Joaninha) deixará de existir como ser humano, aguardando apenas a morte física. A estagnação das perspectivas da sua vida poderá simbolicamente ser associada com a situação de Portugal ("pátria moribunda"). |
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